quarta-feira, 1 de abril de 2009

Tapir Hirsuto e os concursos públicos

Publicada n'O Taquaryense em 5 de agosto de 2006.

Caro Fidel, desde que te apresentei o emérito professor doutor Tapir Hirsuto, o homem não parou mais de se exibir. A grande influência do ilustre acadêmico se fez notar, recentemente, nos concursos públicos realizados por certas universidades federais (espero que não inclua a minha alma mater, Fidelito, a gloriosa UFRGS).

Pois Tapir e seus amigos deram para impor a mediocridade compulsória e fazer barreira para a competência. A idéia é simples: cada concurso exige diplomas específicos que o cidadão tem que ter. Não importa se o candidato é o maior expoente mundial da área do conhecimento. Não importa se os alunos estudam nos livros dele. Não importa se tem mais publicações científicas no assunto do que toda a banca que o julga.

É preciso ser um Tapir Hirsuto para impedir um Piaget de lecionar para Pedagogia. “Sabe o que é, seu Piaget, é que para entrar para o Departamento de Pedagogia da Universidade Federal de Cacimbinha tem que ter diploma de Pedagogia. Como o senhor é biólogo, não dá”.

O mesmo vale para outras panteras que não poderiam nem miar nas nossas universidades. O sociólogo Tom Davenport não poderia lecionar para Administração. É preciso ser um Tapir Hirsuto para barrar o talento e fazer da mediocridade o máximo admissível. Só no Brasil.

Pois é, Fidelito. Enquanto nós damos tanta importância a um pedaço de papel chamado diploma – uma espécie de prisão perpétua na cela coletiva dos obtusos que fizeram o mesmo curso –, os gringos do chamado “primeiro mundo” nem ligam para este tipo de cartório acadêmico. Chegam até a perdoar pequenos e grandes trambiques para que uma “fera” possa trabalhar.

Olha dois exemplos, um de pequeno deslize e outro de grandes crimes: o ator norte-americano James Woods começou a carreira sem ter estudado interpretação, mentindo e convencendo que era inglês de Liverpool para ganhar seu primeiro papel. É ou não é um grande ator? Fez Ciência Política no Massachusetts Institute of Technology e tem um QI acima de 180.

O outro exemplo é Frank Abagnale Junior, interpretado no cinema por Leonardo Di Caprio. Com 136 de QI, roubou milhões de dólares aos 19 anos com suas falsificações, além de enganar brilhantemente como professor, piloto de avião, advogado e médico. Foi preso, foi contratado pelo FBI e, tempos depois, enriqueceu como consultor em segurança contra fraudes.

Pensando bem, já que falamos em QI, bem que o emérito professor doutor Tapir Hirsuto poderia cair em desgraça e dar espaço para Koko, a gorila, que fala a língua de sinais e tem QI de 90, pouco menos do que um ser humano de inteligência mediana. Seu vocabulário é de umas 500 palavras (eu ia dizer algo sobre nossos universitários; melhor não...).

Koko dá respostas simples e sensatas. Perguntada se gostaria de ter um gato, um cachorro ou outro gorila como amigo, foi taxativa: “Cachorro” (eis que não são só os humanos os desiludidos com os de sua espécie). Se perguntássemos “O que tu achas dos concursos públicos nas universidades brasileiras?”, ela certamente responderia: “Burrice”.

Ela é uma ativista política e formadora de opinião. É palestrante de sucesso e já fez vídeos educativos, como podemos ver em seu sítio na web (www.gorilla.org). Abaixo Tapir Hirsuto! Koko para ministro da Educação!

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