domingo, 5 de abril de 2009

Eu contra três

Publicada n'O Taquaryense em 23 de setembro de 2006.

Fidel, como tu bem sabes, temos a difícil, ingrata, lamentável tarefa de escolher, até outubro, nossos representantes na presidência da república, senado, câmara federal, governo do estado e assembléia legislativa estadual. A informação disponível para isso é nossa memória, musiquinha, a cara do sujeito ou da sujeita e alguma frase besta que o postulante declama, apanhando do teleprompter.

E a ficha corrida do boneco, para a gente saber de quantos anos de cadeia o estamos livrando? Pois, uma vez eleito, a impunidade parlamentar garante o indulto e o engavetamento do processo. Ê trem bão!

E o boletim escolar, para saber se estamos elegendo um burro esperto? E o psicotécnico, para saber se vamos sentar nas poltronas macias da casa executiva ou legislativa um maluco de atar? E a transcrição ipsis litteris de todas as declarações de renda já apresentadas à Receita Federal pela personagem? É isso que eu quero saber, postado na internet. Podem me poupar de musiquinha e papo engana-coió.

Para os que já deputam e querem deputar mais, eu quero a relação completa dos votos que deu até hoje e o índice de freqüência ao trabalho. Quer se reeleger? Pois eu quero saber como vossa excelência deputa. Sem dispensar a ficha corrida, o boletim, o psicotécnico...

Querem que eu pague essa campanha fraudulenta com um tal “financiamento público de campanha”. É ruim, hem? Se fossem pessoas físicas, Fidelito, o tribunal eleitoral, os partidos políticos e as produtoras de vídeo seriam presos por estelionato e formação de quadrilha. Ou o que tu farias com quem constrange o cidadão a financiar propaganda enganosa? A propaganda eleitoral gratuita é o conto do vigário em escala industrial e nacional.

Falam no financiamento público de campanha como se já não existisse. E quem é que paga o tempo da TV? E os partidos não recebem gordas boladas? Que fique claro, então: o financiamento público de campanha já existe; eles apenas estão querendo mais, muito mais.

Eu nunca ouvi falar de alguém que decidiu votar em um candidato porque viu um cartaz ou um anúncio no rádio ou TV. Muito menos porque participou de alguma das modalidades mais estúpidas de propaganda política - showmício e carreata. No entanto, é nessas coisas que muitos candidatos enterram boladas de dinheiro.

Eles devem ter razão. Eles sabem como votam os 75% de analfabetos do Brasil. Eu é que não sei. Mas não me digam que o Congresso é um espelho do Brasil, porque não é. Lá, muito poucos são analfabetos. Aqui fora, no Brasil, os bandidos não têm mesada e sigilo garantido.

Não me julga mal, Fidel. Não tenho nada contra os políticos, muito pelo contrário. Outro dia, ouvi falar de um deputado candidato a voltar à câmara federal que sabe o que é ciência e para que serve. Saquei rápido caneta e folha de papel. Resolvi 1/5 do problema; só falta escolher o resto dos meus candidatos.
Mas, eis que surge no horizonte uma luz. Há gente interessada em mostrar detalhadamente quem é cada candidato. São essas ongues. Talvez eu dê algum dinheiro para elas. O quê? Pensaste que o financiamento público de campanha iria para quem quer informar o eleitor? Tolinho! Isso não interessa ao tribunal eleitoral, aos partidos políticos e às produtoras de vídeo.

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