sábado, 11 de abril de 2009

Internet cacete

Publicada n'O Taquaryense em 4 de novembro de 2006.

Fidelito, já encheu o saquinho esta enxurrada de e-mails atribuídos a escritores famosos que abarrota minha caixa postal. É sempre igual: sujeito chato, que se acha escritor, destila sua chatice num texto trôpego e o espalha pela web, atribuindo-o falsamente a algum figurão, na esperança de que passem adiante. Passam.

Já atribuíram a García Márquez um discurso piegas sobre um suposto câncer. Já atribuíram ao Luís Fernando Veríssimo umas gracinhas pouco engraçadas. Mas, como em toda a regra, há exceção: a Sara, aquela garota de Floripa, escreveu o "Quase", texto dor-de-cotovelo que alguém (ela jura que não foi) jogou na web com o nome do Veríssimo e criou fama.

“Quase” foi parar numa coletânea francesa (foi mesmo, não foi quase), matando duas cobras na mesma cacetada: provou o talento da menina e a universalidade da picaretagem. A francesa que se apropriou do texto "do Veríssimo" sequer o consultou – imagina se pagou os direitos autorais... A França não é um país sério.

Recebi um e-mail atribuído ao João Ubaldo Ribeiro. Podre. Como se o baiano fosse fazer esse discurso moralista que eu estou lendo - que no Brasil todo mundo é desonesto, bibibí, bobobó, com cinco pontos de exclamação (!!!!!) – prova inequívoca de que o autor não vive de redigir. Que no Brasil nunca vamos comprar jornal como no exterior, onde o sujeito bota a moeda, abre a caixa de jornal, tira um exemplar só e fecha a caixa de novo.

Tá bom. Tanta civilização ainda é sonho para nós. Mas, peraí... Achar que só a gente é picareta é um erro básico. A gente é vira-lata, isso sim - rouba-se e picareteia-se por qualquer trocado no Brasil. Qualquer mané rouba, não é preciso grande talento.

Porém, a picaretagem existe no mundo inteiro e é irreal esperar que suma. O que nós temos de particular é a democracia: tanto o juiz Lalau quanto o Zé das Couves roubam e se consideram cidadãos de bem. Eles não são “qualquer um”.

A última que me veio empestar a caixa postal é uma baboseira sobre uma tal “Sociedade dos Amigos de Plutão”. Segundo o e-mail, seria mais uma trambicagem do PT: uma ONG para promover o retorno de Plutão à condição de planeta (rebaixado que foi a asteróide, coitado).

A ONG receberia dinheiro público para pagar seus 800 diretores, a 20 mil reais por semana. Inclusive, o presidente Lula teria liberado 7,5 milhões de reais para a Sociedade. [Parênteses não bastam; aqui eu preciso abrir colchetes: faz a conta, Fidel, e vê que essa grana só pagaria 3 dias de salários da diretoria – para que tanto auê por essa mixaria?]

Só um sem-noção acreditaria numa besteira dessas, né Fidelito? Ou não. O jornalista Cláudio Humberto (porta-desaforo do ex-presidente Collor, lembra, Fidel?) denunciou a liberação da verba. O nobre senador Heráclito Fortes leu e, com a mesma falta de espírito crítico (na falta dela, o rigor jornalístico de verificar a verdade também teria resolvido o problema), defendeu a criação de uma CPI.

O bacana da vida moderna (tinha que ter alguma vantagem) é que está tudo aí para a gente conferir: o mico do senador foi parar no YouTube. A radiografia completa da besteira, incluindo link para a coluna claudiohumbertiana, está em www.quatrocantos.com/LENDAS/.

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