sexta-feira, 13 de março de 2009

Balela, mais balela

Publicada n'O Taquaryense em 28 de janeiro de 2006.

Caro Fidel, já vai longe o referendo da proibição do comércio de armas e munições, mas ainda sobrou assunto. Falou-se muito de violência e, realmente, a razão saiu estropiada pela mistificação e pela musiquinha.

Muitos chamaram de “Referendo do Desarmamento”, embora não se estivesse votando pelo desarmamento. Mas era referendo justamente porque a proibição já estava no Estatuto do Desarmamento, com a ressalva de que o povo deveria referendar (não referendou).

Só que o próprio Estatuto já garante a várias categorias o direito a não apenas possuir, mas também portar armas (como, se não pode comprar?). Uma loucura. Um festival de bobagens quase tão absurdo quanto o regulamento do último campeonato gaúcho de futebol (mas sem tantos erros de português, reconheçamos).

Lá se foram 270 milhões de reais num referendo fadado a dar em nada, mesmo que vencesse o “Sim”. Em eleições comuns, pelo menos, a frustração por ver eleitos vários criminosos e malas-sem-alça é balanceada pela diversão. Um candidato xinga o outro e o povo se diverte. Aparecem os candidatos mais esquisitos e o povo se diverte.

Nesse referendo, não. Foi só chateação. E, além dos revólveres e espingardas, continuamos a conviver com o porte de todo tipo de arma pelos tipos mais inescrupulosos. Se, por um lado, uma espingarda pode servir não à violência mas à defesa, por outro lado há coisas feitas para a paz, mas que se transformam em arma pelo abuso do portador.

Olha o exemplo do pintor de placas de trânsito da cidade de Porto Alegre, Fidel: o pincel desse sujeito já matou a lógica, ao confundir “proibido dobrar à direita” com “sentido obrigatório à esquerda”. Se os motoristas porto-alegrenses obedecerem a sinalização, aí sim haverá mortes a rodo, pois em muitos casos a placa manda atravessar a pista contrária, cortando a frente de quem vem no outro sentido. Então são duas violências: contra a lógica e contra a integridade física.

Para não falar só de armas letais, citemos algumas de dano moral. A língua do nosso presidente da república, por exemplo, que confunde tatame com tapume, jura solidariedade ao Roberto Jefferson, louva o “nosso Delúbio” e diz que caixa 2 não é tão feio, sem falar no tradicional assassínio da língua portuguesa.

As declarações do presidente dificilmente matam, mas causam alguma confusão e nos dão vergonha. Ele, e quem sabe mais uma série de outras figuras, poderiam ter a língua interditada a bem do interesse comum, para evitar o incômodo, a moléstia causada aos cidadãos. Não é isso que chamam de dano moral?

Outra arma que poderia muito bem ser proibida é qualquer fonte sonora na mão de cretinos mal-educados e arrogantes. Certo, concordo contigo, não é simples determinar quem é cretino mal-educado e arrogante, pois quem é acha que não é. Mas arrisco que, quanto ao meu vizinho, todos concordariam que a cretinice é berrante e bem documentada pela Polícia Militar. Enfim, Fidelito, poderíamos ir longe com a lista. O leitor certamente gostaria de proibir algumas armas. Duro é que uns pilantras só entendem porrada. Violência não é a resposta, mas às vezes pode ser um bom palpite.

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