terça-feira, 31 de março de 2009

Lá vamos nós, outra vez

Publicada n'O Taquaryense em 29 de julho de 2006.

Caro Fidel, a campanha ainda não começou quando escrevo estas mal traçadas, mas não tenho medo de errar ao dizer como vai ser mais uma emocionante corrida eleitoral. Por favor, Fidelito, chega de xingar os deputados e botar a culpa neles por tudo de ruim que há neste país. Eles são uma parte da ruindade, mas não têm competência para fazer a encrenca sozinhos.

Nosso presidente, quando não o era, disse que na Câmara Federal há “300 picaretas com anel de doutor”. Muita gente se assombrou com o cálculo conservador. E eu digo que o problema não é ter ou não ter o anel de doutor.

É que um criminoso tem todo o interesse e toda a vantagem em candidatar-se. Um cidadão honesto, não. Se há cidadãos honrados na Câmara, e os há, são desse tipo de gente tenaz que se dispõe a nadar contra a corrente.

Senão, vejamos. O salário é baixo. Detesto admitir que o Severino Cavalcanti tinha razão nesse ponto. Porém, se o deputado for trambiqueiro, pode aumentar o rancho roubando boa parte do salário de seus trocentos aspones oficiais, que ele tem o direito de contratar.

Para um candidato a deputado, ter um currículo brilhante não chega a ser crime... Só que crimes na ficha corrida são um incentivo muito melhor para quem quer um mandato e a conseqüente im(p)unidade parlamentar. Simples.

E o bom de tudo isso é que a campanha nivela o currículo brilhante à ficha corrida horripilante. Daqui até outubro, temos que escolher um da penca de candidatos a granel com base em foto e musiquinha. Não dá para saber o currículo, a ficha corrida e o psicotécnico, portanto temos grande chance de eleger um burro (todavia esperto), bandido ou maluco. Ou pior, ainda: “Todas as alternativas anteriores”.

É... não há como saber. Sabe como é... Estamos em 2006; ainda não inventaram a internet. Além disso, se existisse a internet, seria muito caro publicar. Caríssimo. Mais caro que fazer boné. Ah, se houvesse um jeito de saber...

Observa, Fidelito, que os políticos fogem, como vampiro de crucifixo, de qualquer possibilidade de esclarecer quem realmente são. Isso não lhes interessa. Tanto que, se têm bastante dinheiro para a campanha, investem em coisas estúpidas-descerebradas como showmício. Tudo para evitar que o povo pense, tudo para que continue sendo um gadinho fácil de enganar.

Para não cometer injustiça, Fidelito, passeei por alguns sítios de partidos na web. Tem fotos, jingles, informativos partidários, peças publicitárias, brindes do partido para levantar fundos, mas... nada de dizer todos os lugares em que cada mandatário e cada candidato estudou e trabalhou (com telefone e e-mail, claro), se foi processado ou preso e por qual motivo...

Alguns partidos chegam a dar os e-mails e telefones de deputados. Há até os que apontam para a página do deputado no sítio na Câmara dos Deputados. Lá existe uma “Biografia” com alguma informação. Claro que eles escolhem os melhores ângulos para se apresentar. Vou te contar, Fidel: todos são “Gisele Bínchem”.

Mas não é bem isso que eu quero, Fidelito. Como se fosse buscar um auxiliar numa agência de emprego, eu quero um “menu”. Quero ver se os candidatos são empresários, administradores, se foram pobres, se são ricos, de onde veio a fortuna... Daí vou poder dizer que há escolha.

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