sexta-feira, 13 de março de 2009

Não vem com essa

Publicada n'O Taquaryense em 21 de janeiro de 2006.

Caro Fidel, se tu não sabias, andar de bicicleta, falar outra língua, ser pai, mãe, chefe, professor, imitar pum com o sovaco, adolescer, tocar maraca e tudo o que requer aprendizagem precisa do erro. Fazer tudo perfeito não é humano. E eu já estou perdendo a paciência, não agüento mais tanta gente – velha, inclusive – dizendo que 2005 foi um ano que deu vergonha de ser brasileiro.

Não vem com essa. Em 2005 descobriu-se (para quem não sabia - alô-ouuu...) que as campanhas políticas são pagas pelo caixa 2. Que aspones laranjas sacam dinheiro para seus chefes movimentarem o comércio de deputados - se preciso for, carregando pila até na cueca.

Que autoridades ordenham detentores de concessões públicas, criando dificuldades para vender facilidades. Veja-se o caso do paladino do atraso, o presidente impichado da Câmara Federal, a chupar um mensalinho do dono do restaurante da Câmara, aquele da linda esposa, senão cancelava a concessão.

Que, mesmo que tenha aperfeiçoado muito o sistema, o atual governo não o inventou - é tudo parecido com o que fizeram governos anteriores, embora alguns vetustos senhores caras-de-pau vociferem pela moral e bons costumes. Que quem rouba muito não vai para a cadeia, mas quem aponta um ladrão pode ir – vide os cineastas-arapongas que filmaram o chupim Maurício dos Correios, ladrãozinho que só numa embolsada vista na TV chupou o que alguns trabalhadores jamais conseguem juntar.

Que 25 mil cargos de confiança para lotear entre os correligionários é fermento para a corrupção, mas não se acaba com isso porque é do interesse de todos os políticos equívocos – e os há em número suficiente para deixar tudo na mesma. Que é balela que não há dinheiro para aumentar o salário mínimo – há, mas os bilhões e bilhões da corrupção são intocáveis. Que é lorota que os governadores querem diminuir a sonegação – isso diminuiria o lucro dos amigos que os financiam; seria trair os amigos.

Que, afinal, valeu a pena toda aquela briga dos deputados para aumentar o número mínimo de vereadores por cidade de 7 para 9. Porque, nesse esquema-pirâmide da perversão, criaram-se 10 ou 11 mil cargos de vereador a mais. Nessa AmUei da perversão – sabe a AmUei? – os novos vereadores aumentam a rede de troca de favores dos seus padrinhos políticos.

Em 2005, vimos o resultado daquela briga vencida pelos apóstolos das trevas, que aumentaram o número de vereadores. Que nem no marketing multi-nível – nome bacana, né Fidelito? –, o bagrinho faz parte da rede do bagrinho um pouco maior, este de outro um pouco maior, até chegar ao tubarão. Cada bagrinho na rede aumenta a influência do padrinho ou upline, como se diz em linguagem marketeira.

E já viste, Fidelito? Quem está no topo da pirâmide gosta de ser passivo, provocando ou cedendo sofregamente aos avanços dos corruptos ativos. Foi o caso do restaurante da Câmara: Severino, passivo, Buani, ativo. Acho que tem a ver com o talento do segundo para conquistar aquela morena maravilhosa que o acompanhava.

Se tu não achas tudo isso motivo de orgulho de ser brasileiro, Fidelito, o que eu vou fazer? Azar de quem prefere a ignorância, pois nunca soubemos tanto quanto agora. Vergonha é roubar e não poder carregar na cueca.

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