Publicada n'O Taquaryense em 21 de janeiro de 2006.
Caro Fidel, se tu não sabias, andar de bicicleta, falar outra língua, ser pai, mãe, chefe, professor, imitar pum com o sovaco, adolescer, tocar maraca e tudo o que requer aprendizagem precisa do erro. Fazer tudo perfeito não é humano. E eu já estou perdendo a paciência, não agüento mais tanta gente – velha, inclusive – dizendo que 2005 foi um ano que deu vergonha de ser brasileiro.
Não vem com essa. Em 2005 descobriu-se (para quem não sabia - alô-ouuu...) que as campanhas políticas são pagas pelo caixa 2. Que aspones laranjas sacam dinheiro para seus chefes movimentarem o comércio de deputados - se preciso for, carregando pila até na cueca.
Que autoridades ordenham detentores de concessões públicas, criando dificuldades para vender facilidades. Veja-se o caso do paladino do atraso, o presidente impichado da Câmara Federal, a chupar um mensalinho do dono do restaurante da Câmara, aquele da linda esposa, senão cancelava a concessão.
Que, mesmo que tenha aperfeiçoado muito o sistema, o atual governo não o inventou - é tudo parecido com o que fizeram governos anteriores, embora alguns vetustos senhores caras-de-pau vociferem pela moral e bons costumes. Que quem rouba muito não vai para a cadeia, mas quem aponta um ladrão pode ir – vide os cineastas-arapongas que filmaram o chupim Maurício dos Correios, ladrãozinho que só numa embolsada vista na TV chupou o que alguns trabalhadores jamais conseguem juntar.
Que 25 mil cargos de confiança para lotear entre os correligionários é fermento para a corrupção, mas não se acaba com isso porque é do interesse de todos os políticos equívocos – e os há em número suficiente para deixar tudo na mesma. Que é balela que não há dinheiro para aumentar o salário mínimo – há, mas os bilhões e bilhões da corrupção são intocáveis. Que é lorota que os governadores querem diminuir a sonegação – isso diminuiria o lucro dos amigos que os financiam; seria trair os amigos.
Que, afinal, valeu a pena toda aquela briga dos deputados para aumentar o número mínimo de vereadores por cidade de 7 para 9. Porque, nesse esquema-pirâmide da perversão, criaram-se 10 ou 11 mil cargos de vereador a mais. Nessa AmUei da perversão – sabe a AmUei? – os novos vereadores aumentam a rede de troca de favores dos seus padrinhos políticos.
Em 2005, vimos o resultado daquela briga vencida pelos apóstolos das trevas, que aumentaram o número de vereadores. Que nem no marketing multi-nível – nome bacana, né Fidelito? –, o bagrinho faz parte da rede do bagrinho um pouco maior, este de outro um pouco maior, até chegar ao tubarão. Cada bagrinho na rede aumenta a influência do padrinho ou upline, como se diz em linguagem marketeira.
E já viste, Fidelito? Quem está no topo da pirâmide gosta de ser passivo, provocando ou cedendo sofregamente aos avanços dos corruptos ativos. Foi o caso do restaurante da Câmara: Severino, passivo, Buani, ativo. Acho que tem a ver com o talento do segundo para conquistar aquela morena maravilhosa que o acompanhava.
Se tu não achas tudo isso motivo de orgulho de ser brasileiro, Fidelito, o que eu vou fazer? Azar de quem prefere a ignorância, pois nunca soubemos tanto quanto agora. Vergonha é roubar e não poder carregar na cueca.
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