segunda-feira, 2 de março de 2009

Balela

Publicada n'O Taquaryense em 22 de outubro de 2005.

Fidel, sair de casa num domingo, por obrigação, para responder a uma pergunta inócua não é nada. Muita gente vai ter de passar o dia inteiro servindo como mesário enquanto os demais eleitores respondem por obrigação a uma pergunta inócua. É bem diferente da sensação de fazer algo pelo país, numa eleição relevante.

Inócua porque não vai no ponto. Sim ou não, não vai resolver o problema que supostamente aborda. “O comércio de armas e munição deve ser proibido?” é uma pergunta equívoca. O “sim” só fará criar outra megaindústria do crime: o tráfico de armas elevado ao cubo.

Mas quem disse que a violência não está diminuindo? Pelo menos, desistiram de assassinar o português, pois mudaram aquela redação original, com dupla negação: "Você é contra a proibição da comercialização de armas e munição em todo o território nacional?"

Eu quase não vi a propaganda na TV. Mas, quando vi, me assustei. É tão ou mais burra do que a campanha do último plebiscito, aquele sobre monarquia ou república, presidencialismo ou parlamentarismo. Mistificação e musiquinha. É mais uma prova de que não conseguimos pensar direito, de que nosso sistema educacional é uma das maiores tragédias da humanidade.

Tem mais. É e-mail fantasioso circulando pela internet, com histórias inventadas de massacres de cidadãos desarmados. É artista dizendo que eu devo dar ao governo o direito exclusivo de ter armas legais. O governo quer o monopólio da estupidez. A campanha de ambos os lados é marketeira, enganosa e confusa.

Por algum motivo, nenhum dos dois lados aborda uma questão crucial: para quem não confia neste governo (ou outro qualquer), a posse de arma é a única possibilidade de defesa num caso de ataque à liberdade. “Ah! Mas isso é paranóia”. É, sim. Ninguém vai tentar tomar o Estado, assim como ninguém tentaria violar o painel de votação do senado, nenhum juiz de futebol maluco roubaria por uma propina igual a quatro rodadas de trabalho honesto etc. etc.

Proibir o comércio de armas é tirar do cidadão o direito legal de se defender. Não se trata de incentivar a posse de arma, não se trata de achar bonito os acidentes com crianças e os crimes passionais. Trata-se de, mais uma vez, usar a caneta governamental para assaltar o cidadão e manter o bundão gordo sentado na poltrona, em vez de trabalhar.

Eu até que gostaria, Fidelito, de responder a alguma pergunta relevante em plebiscito. Por exemplo: “O número de senadores por estado deve voltar a ser 2?” Ou “O pagamento de deputados e senadores deve ser condicionado à sua freqüência parlamentar?” Ou “O patrimônio dos condenados por assalto ao erário deve ser confiscado?” Ou “Candidatos a cargo público devem ser forçados a publicar na internet sua ficha policial, escolar e psicológica?”

Melhor ainda seria a gente fazer as perguntas, né Fidelito? Não, melhor não... Daria mais “Tem uma boquinha aí pra mim, deputado?” do que pergunta que preste. Deixa assim. Vai lá, vota e depois reza, pede proteção contra a direita, a esquerda e os desorientados. Só não vai contar com a ajuda dos artistas que fizeram campanha para proibir o comércio de armas. Nem tenta chegar perto. Eles têm seguranças armados.

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