sábado, 28 de fevereiro de 2009

E El Malo, que não vem?

Publicada n'O Taquaryense em 17 de setembro de 2005.

Fidel, ponho entre aspas porque foi ouvido por um amigo meu durante uma corrida de táxi: “Tem umas coisas sem sentido que não têm cabimento”. Todo mundo sabe que os motoristas de táxi entendem de economia, mas de vez em quando também criam pérolas da filosofia.

Uma das coisas sem sentido que não tem cabimento é esse costume brasileiro de punir o inocente e premiar o bandido. Há exemplos de sobra (eu mesmo fui premiado com 2 anos de corte salarial por detectar uma fraude e relatá-la à instância competente – o leitor me diga se não conhece quem viveu coisa parecida).

Agora mesmo, no lamaçal político brasileiro, pipocam exemplos. O caso que achei mais mimoso é o que envolve os protagonistas Chupim Maurício, alto funcionário dos Correios filmado ao embolsar 3 mil reais de propina, dizendo que “pode-se roubar de tudo nos Correios”, e quem planejou o videoclipe que acabou na TV.

Pois prenderam o ‘produtor cinematográfico’ pouco depois de a gatunagem explícita aparecer na TV. Já o Maurício... Vi a entrevista do chefe dele. Mais de 3 meses após o chupim barbado e bandeiroso roubar em horário nobre, ainda não encontrou motivos para demiti-lo.

A mensagem passada às criancinhas é claríssima: pode roubar, mas mostrar que um vigarista está roubando é considerado de péssimo tom e dá até cadeia. Mesmo que se filme e mostre o bandido com a mão na massa e ainda por cima contando vantagem. O vira-bosta continua solto e recebendo salário.

Bueno, a entrevista do tal chefe, sujeito mais lerdo para tirar conclusões do que um pé de samambaia, passou na TV. O chefe do chefe é o ministro das comunicações. Se o ministro não viu, algum assessor deve ter visto.

Pelo jeito, o ministro também não acha que há motivos para levar a mal o afano filmado de três mil réis praticado pelo larápio de óculos, gravata e barba mal feita. Continuemos. O chefe do chefe do chefe é o presidente da república. Aquele que tem mais moral do que qualquer um para falar de ética... na opinião dele próprio.

Pois o jurista Hélio Bicudo, petista dos antigos, contou à revista Veja que em 1997 o nosso agora presidente, então a figura máxima do partido, teria mandado abafar uma sindicância interna que ameaçava condenar um compadre. O único punido? O autor da denúncia.

Leio n’O Correio do Povo que a assessoria do Planalto planeja o roteiro do presidente no desfile de 7 de setembro com medo de vaia. Mas por quê? Se eu tivesse um bundão gordo, Fidelito, e o movesse em andanças festivas por aí, não teria medo. É mais fácil punir um cidadão cumpridor de seus deveres, que gasta seu tempo trabalhando, do que quem tem tempo e dinheiro para se defender de um ataque pífio.

Mais que pífio, cá para nós, o ataque é culpado. Velhas raposas simulam surpresa com a atual baixaria, como se os pudesse chocar. Como se o Severino tivesse começado a severinar agora. Como se o Roberto Jefferson só soubesse demais sobre o governo atual.

Os culpados, situacionistas em delírio persecutório e oposicionistas moralistas, ainda acham que enganam, mas são maus atores. Só lhes resta esperar que tudo se resolva como nos velhos tempos. Nervosos como gato em dia de faxina, esperam que apareça logo El Malo para ser culpado e remir a todos. E El Malo não vem...

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