terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Parem esse moço!

Publicada n'O Taquaryense em 23 de abril de 2005.

Fidel, eu soube de um evento aí em Taquari. Parece que faz parte do III Encontro Nacional de História da Mídia, no campus da Feevale, em Novo Hamburgo, mas no último dia o pessoal se bandeia para a terra da laranja. A função é inaugurar o Museu-Vivo de Comunicação “O Taquaryense”, sob a organização da Univates, e rodar uma edição especial do jornal.
Não sei se tu te dás conta da dimensão do fato, neste ano que também é o do centenário de nascimento de Érico Veríssimo. Não sei se já viste na mesma mirada uma onça, um tapir e um lobo guará soltos no mato, ou um álbum completo de figurinhas dos Cracões da Copa de 70, ou um computador que ainda funcione com Windows 3.11. Mas, se tu tiveres a oportunidade, vai ver algo muito mais raro que todas essas coisas: a tirada de uma impressão d’O Taquaryense, talvez o único jornal do mundo que se mantém ativo com a mesma tecnologia do século XIX.
Ainda não posso dizer com certeza se é o único no mundo, mas estou perguntando aos estrangeiros e te conto quando tiver uma resposta convincente. O que eu descobri, Fidelito, é que O Taquaryense não é só o 2º jornal mais antigo do Rio Grande, como também é o 10º mais antigo do Brasil.
Pelo menos é o que disse A Tribuna do Norte (7º mais antigo) recentemente. Espia só: Diário de Pernambuco (1º-PE), Jornal do Commercio (2º-RJ), O Mossoroense (3º-RN), O Estado de São Paulo (4º-SP), A Província do Pará (5º-PA), O Fluminense (6º-RJ), Tribuna do Norte (7º-SP), Gazeta de Alegrete (8º-RS), Diário Popular (9º-SP) e O Taquaryense (10º-RS).
Só que nem os 9 mais velhos, nem qualquer outro que eu conheça, ainda fazem a montagem manual dos tipos. Por isso a edição especial, com tanta gente de fora para ver, bem como os projetos de alunos e professores da Univates são tão bem-vindos. Aliás, andei vendo na internet um filme de 1 min feito pelos alunos bolsistas do Projeto Cultural O Taquaryense: ”O perseguidor“, curta de horror. Já fico curioso para saber o que mais eles estão preparando.
O jornal vem sendo mantido em família desde a criação. Antes de Plínio Saraiva assumir funções gerenciais em 1947, o jornal foi dirigido, entre outros, por seu pai e fundador, Albertino, e por um irmão, Mario. De lá até 2004, seu Plínio fez o possível e o impossível para manter o jornal ativo, nem que para isso precisasse recorrer às próprias economias.
Não é à toa que há pouco mais de meio ano, quando seu Plínio deixou nossa companhia, falei do meu encontro com um mito do jornalismo e descrevi aqui nessa coluna o cuidado que ele dedicava a cada edição, a cada exemplar d’O Taquaryense. Comparei a presença dele à do “grande dragão da poesia”, Quintana – nativo da terra do primeiro jornal gaúcho e 8º do Brasil.
É mole, Fidelito? Seu Plínio dirigiu O Taquaryense por 57 anos, não fruiu as benesses do poder público, manteve uma linha editorial íntegra, com centenas de assinantes, de Taquari à Europa, conseguiu o apoio da comunidade para instalar o jornal em sede própria e construiu as condições para que o jornal continue ativo, mantendo suas características. Imagina se começam a aparecer outros jovens como ele. Não é possível! Assim esse país vai acabar indo para a frente. Parem esse moço!

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