sábado, 28 de fevereiro de 2009

Los Malos

Publicada n'O Taquaryense em 3 de setembro de 2005.

Fidel, o papo sobre tele-catch e seus bandidos e mocinhos que te contei na última carta tem inspiração numa aula. Aproveito para te contar como foi e para lembrar de um mestre muito diferente do doutor Tapir Hirsuto.

Era a década de 1980 e eu fazia Engenharia na gloriosa UFRGS. Mestre Elói Venâncio nos convidou a apresentar temas de Economia, o assunto da disciplina. Olha que incrível: houve vários voluntários, eu inclusive.

Apresentei uma resenha do livro A Trilateral, sobre o novo capitalismo. Havia uma passagem misteriosa para mim: falava do suborno do príncipe Bernardo da Holanda, em 1976, pela Lockheed. O livro só nomeava o subornado e a generosa empresa, sem outro detalhe qualquer.

Mestre Venâncio explicou que o suborno era para empurrar aviões da Lockheed para o governo da Holanda e que houve mais uma torcida do Corinthians de subornados pelo mundo. Também revelou como essas coisas se resolvem quando alguém é flagrado: elege-se “El Malo”.

Inspirado no tele-catch, El Malo faz o papel do bandido – o corrupto, desonesto, depósito dos ódios (invejas, na verdade) do populacho. Como no tele-catch, é tudo combinado. El Malo pode até ir preso, mas é muito, muito bem pago.

Claro que não é qualquer um que pode ser El Malo – choveriam candidatos. Senhores de posses e poder costumam eleger um cidadão enterrado no dejeto até o pescoço e detentor de segredos terríveis (para os tais senhores) para levar a culpa toda. Para fazer o papel, El Malo ganha uma compensação para lá de compensadora.

Mas, Fidelito, eu comecei a escrever esta história quando a CPI dos Correios estava no início. Queria observar a escolha d’El Malo, mas agora já me perdi. Reviravoltas demais! Ficou de um jeito que não sei dar palpite.

Nosso presidente? Ele não viu - faz o papel do juiz tolerante com o lutador trapaceiro. Roberto Jefferson? Bom candidato inicial, mas virou o jogo com brilho. Marcos Valério? Está parecendo a lagartixa que, no momento do perigo, abandona o próprio rabo como se objeto estranho fosse. Até reconhece que é seu, mas...

Mas gente demais buliu com essa cauda, fazendo o mineiro careca perder as credenciais, tornando-se inelegível para El Malo. Tem que ser um em quem a culpa grude (nisso ele está com tudo), mas que não arraste junto a horda de políticos que já fazem parte do cordão.

Quanto mais aumenta o bando dos infectados por evidências de corrupção, maior a urgência de se escolher logo El Malo e estancar a epidemia. A gravidade da coisa pode ser sentida no surto de um senador oposicionista que desatou a lançar impropérios ao presidente da República. Foi raiva ou inveja?

Tudo porque o financiamento de campanha do senador foi açodadamente posto sob suspeita por um deputado governista. O destempero do senador é inadequado para um homem inocente.

Felizmente, há sinais de que os homens de bem cederão ao apelo da razão. Especula-se um acordo partidário para retirar do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara o processo de cassação do deputado Roberto Jefferson. Quem sabe ainda salvam-se todos? Senão, quem resta?

No Senado: Eduardo Suplicy? Pedro Simon? Dá para encher a mão? E na Câmara? Denise Frossard e quem mais? Sobrariam só uns gatos pingados. Perdão! Sobrariam só uns não-gatos pingados.

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