segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

As aventuras do emérito professor doutor Tapir Hirsuto

Publicada n'O Taquaryense em 11 de junho de 2005.

Fidel, caí na tentação. Comecei a falar de Educação, dos abusos contra a língua, e isso é que nem balde de caranguejo: Puxa um causo e vem outro enroscado. Pois aí vai a história do professor Tapir Hirsuto, conforme prometi.
Tapirzinho começou cedo. Decorava bem a matéria, era um aluno exemplar e quase sempre tirava 10. O professor perguntou quanto vale a hipotenusa? Ele sabe: “O quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos”.
“Muito bem, Tapirzinho!” Recebeu o elogio do professor e, não satisfeito, debochou do colega que queria saber o comprimento de uma ponte num vão de 15 metros com um desnível de 2 metros. Há gente besta neste mundo! Em vez de prestar atenção na matéria, perturbam com perguntas.
De tanto decorar a matéria para tirar 10 e decorar o boletim com notas excelentes, foi tomando gosto e resolveu ser professor. O professor Tapir Hirsuto começou a carreira como alfabetizador, nas primeiras séries.
Um dia, passou uma tarefa para casa: escrever o nome de 5 animais selvagens. Fascinado pelos animais africanos que viu numa revista, Marinho, de 6 anos, tascou: “Ocapi, feneco, facócero, tetraz e órix”. Tapir leu a resposta do Marinho em tom de deboche, em voz alta, para a classe. E sentenciou: “Isso não existe”.
Sem pestanejar (nem processar o professor pelo constrangimento – naqueles tempos nem se sonhava com essas coisas), Marinho escreveu outra lista: “Leão, girafa, elefante, tigre e macaco”. Não valia a pena discutir com um professor que é um Tapir Hirsuto.
E o Tapir fez faculdade, depois fez o mestrado e o doutorado. Professor doutor Tapir Hirsuto. É uma figura importante no meio universitário. Sempre que se reúne algum comitê de “notáveis”, o Tapir está no meio. Conselho Federal disso, “representante” (eleito por ninguém) daquilo, autoridade incontrastável.
Ele não é uma unanimidade, mas muitos o adoram por causa da sua curiosa linha de raciocínio. Por exemplo: um estudo da OCDE mostrou que os brasileiros de 15 anos, mesmo os que estudaram em escola particular, não entendem o que lêem. Tapir Hirsuto tem uma solução para isso: parar de fazer esses testes.
Ele também gosta da reserva de mercado profissional. Não importa que químicos ganhem prêmios Nobel de Medicina. Piaget não pode lecionar para a Pedagogia. Freud não pode dar aula na Psicologia. Peter Drucker não entra na faculdade de Administração. Se quiserem, têm que fazer um maravilhoso curso de graduação. Daí, terão a oportunidade de estudar nos livros que eles próprios escreveram.
Já um mané que nunca pensou nem escreveu nada pode dar aula no curso em que se graduou. E que se pague o mesmo salário para o que resiste às ofertas estrangeiras porque quer ficar no Brasil e para o que se esconde na universidade porque não teria espaço em outro lugar. Bela lógica, né Fidelito? Como diz o tango, “igual un burro que un gran profesor”. Pudera termos tantos escravos dublando professores.
Um famoso centroavante barbudo do Corinthians disse: "Mandai educar vosso filho por um escravo, e, em breve tempo, em vez de um escravo, tereis dois". Hein? Estão me cutucando, aqui, dizendo que não foi jogador do Corinthians. Parece que jogou na Grécia. Sei lá. Acho que eu faltei a essa aula.

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