terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O professor Tapir ataca outra vez

Publicada n'O Taquaryense em 13 de agosto de 2005.

Fidel, andam dizendo por aí que o emérito professor doutor Tapir Hirsuto, que te apresentei aqui outro dia, agora está servindo a pátria em Brasília, no Congresso Nacional. A julgar pelo videozito que recebi hoje pelo e-mail, mestre Tapir agora empresta o seu brilhantismo literário à Câmara dos Deputados, no papel de redator de peças legais.
O videozito mostrava um repórter de não sei qual jornal anunciando o decreto legislativo de um referendo popular para outubro de 2005. A pergunta que será feita no referendo é (veja se não é obra de artista): "Você é contra a proibição da comercialização de armas e munição em todo o território nacional?"
Tivesse eu o mesmo talento do redator, estaria lá em Brasília. Como não tenho, arrisco aqui algumas sugestões alternativas para a pergunta do referendo: "A proibição da venda de armas e munições você não acha que não deveria ser liberada?" "Você é desfavorável à proibição da liberação de gente não andar desarmada?" "O que você acha de a gente entregar logo o país para alguns gringos que saibam ler e escrever?"
Desanimei, Fidelito. Cansei. Gastar o que se gasta todo mês com essa Câmara, com trocentenas de assessores, aspones, cunhados e parentes e não conseguir sequer enunciar uma pergunta decente? Mas o pior era o que vinha depois, no mesmo videozito de que te falei.
Em seguida à declamação do poema que é a pergunta do referendo, o repórter encontrou o presidente da casa legislativa, o deputado Severino Cavalcanti. Consta que a nomeação de doutor Tapir como redator teria sido indicação dele. O sagaz professor, por seu turno, seria um grande admirador do notável representante da vanguarda nacional do atraso.
Inquiriu do primeiro deputado o solícito repórter: Quais são os próximos projetos mais importantes a ser votados no plenário? Ao que respondeu Severino (está gravado, não é invenção minha): “Temos vários projetos aí, inclusive a reforma tributária, que deverá ser votada dentro de pouco tempo. Temos o... (longo silêncio) o... (longo silêncio seguido de “assopro” do assessor) ... a reforma política, temos a... (longa pausa)...”
E Severino desistiu de tentar lembrar de algum projeto importante. Das duas, uma: ou não há qualquer projeto importante para ser votado pela Câmara, ou o seu presidente tomou sonífero. É tanta lerdeza, Fidelito, que dá para desconfiar que tudo o que se tem feito na política nacional tem a inspiração do professor Tapir Hirsuto (noves fora a roubalheira, para a qual nosso herói não tem pendor nem talento).
Senão, vejamos: qual é a idéia do Congresso para que a bandidagem deixe de roubar a população? Desarmar a população, óbvio. Os indicadores educacionais são pré-medíocres. O que fazer? Deixar de medir o desempenho, claro, para a gente não passar tanta vergonha.
Os políticos roubam demais? Ora, é só criar mais impostos e financiar a campanha deles, desde que se continue mantendo em segredo a ficha corrida de cada um. A ficha corrida, o boletim escolar, o psicotécnico. Afinal, é preciso garantir o direito de todo ladrão, imbecil ou maluco de candidatar-se incógnito para nos (?) representar. Eu, hem? Não; não é nesses aí que eu voto para me representar.

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