terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Viagem a Cais Jovial

Publicada n'O Taquaryense em 19 de março de 2005.

Fidel, hoje vou te contar um pouco mais da minha viagem de férias ao Sobril, esse país fictício que se parece muito com o nosso, mas não é o nosso. Mais especificamente, ao estado do Sobril Meridional. Peguei o rumo sul pela Briói, a auto-estrada que acompanha o litoral. Deixei a Ilha Mágica e me fui a Cais Jovial, leal e valerosa capital do Sobril Meridional.
Cais Jovial, que costuma ser uma cidade grande, no alto verão se transforma numa cidade fantasma. É um calor de fritar ovo no asfalto. Pipoqueiro nem precisa de liquinho para estourar a pipoca, de tão quente que é. Por isso, quase todo mundo dá no pé em direção ao litoral. Muitos vêm para a Ilha Mágica pela mesma Briói, caminho inverso ao meu.
Chegando à leal e valerosa, fiquei muito impressionado com a decadência educacional, visível nas ruas da cidade. Não falo da ruína da polidez, que isso é um fenômeno mundial, mas do que é ensinado na escola – escrever, soletrar, ler de carreirinha, ler só com os olhos, fazer contas de cabeça, regra de três, noves fora, asserção e razão, essas coisas.
A capital, bem como o estado, costumava ser uma referência nacional de cultura e educação. Porém, em poucas décadas, algo aconteceu que fez despencar a qualidade do primário outrora bem-feito dos meridionais. As placas de trânsito são boas amostras da nova burrice.
Por exemplo, quem cruza as duas pistas da avenida que margeia o Arroio Esgoto, no sentido do bairro Cidade de Pedra, logo depois que passa o Ginásio da Milícia, depara-se com uma situação esdrúxula, patética. Se deixar a avenida, passando a circular pelas ruas do bairro, em cada esquina encontra uma placa “sentido obrigatório à esquerda”. [Fidel, muito depois de escrever estas mal tecladas eu vim a saber que não é um fenômeno localizado. As placas equívocas estão espalhadas pela capital e até pelas cidades do interior... Pobre Sobril Meridional.]
Ou seja, a única forma de obedecer à sinalização é ficar dando voltas na quadra até que acabe a gasolina. Seguir em frente no cruzamento é infração de trânsito. Nesse caso, o melhor a fazer é abandonar o carro, pois o caminhão-guincho não pode entrar lá, sob pena de também ficar preso, rodando em círculos.
Pobre Cais Jovial... Era tão orgulhosa de seu povo educado, mas hoje em dia escancara em praça pública a realidade cruel da ignorância. Fica claro, para quem circula pela Cidade de Pedra, que o que se pretendia comunicar era “proibido virar à direita”. Só que quem pôs as placas não sabe que isso não é o mesmo que “sentido obrigatório à esquerda”.
Depois, verifiquei que o problema não se restringe à Cidade de Pedra, mas está espalhado pela capital. Deve ser por isso que andava deserta... Agora, cada vez que um nativo de Cais Jovial me perguntar “Por onde andas?”, vou responder: “Por aí, dando umas voltas”.

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