terça-feira, 18 de novembro de 2008

‘Cença...

Publicada n'O Taquaryense em 10 de janeiro de 2004.

Fidel, se o Henfil escrevia para a mãe, se tanta gente publica cartas, porque não posso publicar as minhas para meu interlocutor mais pensativo e ponderado? Alguém me recomendou esclarecer que não és cubano (ora, quem pensaria isso?).
Confesso que o convite para publicar n’O Taquaryense revolveu-me em orgulho e insegurança. Insegurança porque impõe a necessidade de me apresentar e de me enturmar em uma plêiade de articulistas (e de leitores) à qual é um privilégio pertencer. Apresentar-se dói que nem aquelas redações “minhas férias” dos primeiros anos de escola, a gente tendo que dar explicação.
Como fazer? Não haveria um jeito prático de fazer de conta que já estou por aqui há algum tempo em vez de chegar com esta cara de migué, “não sou daqui, onde é que guardo essa mão”? Entrar de costas, quem sabe? (Mas nem no cinema isso funciona, é só uma piada inocente). Comentar algo em relação à “última edição desta coluna” e rezar para que ninguém note? (Mas sempre haverá um(a) inocente útil a importunar a redação, querendo a tal edição...)
Melhor confessar que sou novo aqui e me apresentar. Além de amigo do destinatário, cabe declarar que sou leitor assíduo d’O Taquaryense. Aliás, é o único jornal que leio regularmente. “Regularmente” é eufemismo, leio sempre (e os demais, quase nunca, mas não é hora de falar disso).
Conheço boa parte dos personagens noticiados. Para completar a apresentação, declaro que fiz um curso de redação oficial por correspondência e um curso de extensão sobre cometas (bonito de ver, no Planetário, em Porto Alegre, uma luazinha chispando o céu em alta rotação). Já dei minhas voltas na Lagoa Armênia e até já fiz carreata em Taquari há muito tempo, embora nunca tenha sido morador.
Para quem acredita que só o supérfluo é relevante, estou apresentado. É que nem caderno de recordação, já que falei nos primeiros anos de escola. Interessa é se “já foste beijado”, não o CPF ou a ortografia. Não faz mal que na hora de botar a cedilha bata um nervoso e saia “reçordacão”.
A parte do orgulho já é mais fácil de explicar. O segundo jornal mais antigo do Rio Grande, 116 anos, com impressão tipográfica montada à mão numa Marinoni adquirida junto ao velho Correio do Povo, em 1910, numa histórica cidade gaúcha, pequena, mas que tem três jornais... é a glória.
Fidel, fica combinado. Se o seu Plínio topar, vamos publicar essas mal traçadas. Tenho a crença de que, mesmo dirigidas a ti, as cartas podem interessar a qualquer um(a). Quem sabe até alcancem algum particular, algum assunto caro ou íntimo do leitor. Mas fico por aqui, até outra vez.

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