quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Meia volta, volta e meia

Publicada n'O Taquaryense em 15 de maio de 2004.

Fidel, uma vez comprei um livro cujo título seria algo assim: “Como Confúcio pediria aumento?”. Foi pouco antes de voltar das terras distantes. Gostei tanto que cheguei a conversar com a autora, que me disse que uma versão brasileira estava a caminho. Isso foi há uns 3 anos e nunca mais.
A idéia era aplicar a filosofia oriental a situações caroçudas do trabalho cotidiano. Me encantou a simplicidade e iluminação das respostas para coisas como a pergunta do título e “Não parece certo que pessoas que não são íntegras estejam se saindo melhor do que quem faz a coisa certa. Por que elas estão tendo sucesso?”. Quem sabe um dia entro em detalhes, mas não é por isso que puxei essa conversa agora.
Uma idéia bem geral, que os iniciados nas coisas chinesas devem saber bem mas para a minha ignorância chegou a ser novidade, é que tudo são ciclos. Achei isso um bom argumento para regatear com os papos de velho que de vez em quando jogam na gente ou a gente mesmo vai montando (é duro admitir...).
“No meu tempo as moças se davam mais ao respeito”. É, e tinham dono, passavam do pai pro marido e alguns nem eram bons. “Os jovens eram mais respeitosos e não debochavam dos mais velhos”. Claro, eram os mais velhos que abusavam (e claro que isso não se aplica a todos os velhos velhos, assim como os novos novos não são todos mal-educados).
E “não se vivia com medo da violência”. Justo, desde que as idéias ou alguma combinação rara de vontade, iniciativa, cor da pele, lugar, sexo, comportamento etc. não fosse por demais inadequada. Caso fosse, estava-se frito ou se teria de rebolar muito. As artes e as letras devem muito a esses movimentos rebolativos.
Deves me achar uma espécie de Gardel com seu Cambalache, dizendo que la vida fue y será una porquería. Largo de ser exagerado, então. Já deu para passar a idéia de que as coisas vão e vêm, dinheiro entra, dinheiro sai etc. Mas ainda assim...
Fica-se com a impressão de que este novo milênio tem sido mais de perdas do que de ganhos. O leitor aí, com as suas, sabe do que eu falo. Mesmo quem tem uma vida supimpa reconhece a dureza à volta e estamos todos tentando nos adaptar, trans-por, sobre-viver.
Como dona Zoraide, que não se conformou de ficar atrás do neto de 5 anos em todas as questões informáticas. Foi à luta: estudou, clicou, cutempeistou, escaneou, becapeou. Cheia de coragem, pediu ao netinho que a sabatinasse, e foi assim: “Vó, o que é que é redondo, tem duas letras, começa com c e tem um furo no meio?”
Dona Zoraide passa bem, o desmaio não foi nada. Apenas recebeu uma prescrição de remédios e caminhadas regulares. Mas não chegou a ouvir o neto esclarecer: “é CD!”.

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