sábado, 29 de novembro de 2008

Como ganhar no jogo e no soco

Publicada n'O Taquaryense em 3 de julho de 2004.

Fidel, não que eu seja especialista no assunto, que tu sabes que não, mas há jogos e jogos. Falo dos de azar, cuja popularidade parece crescer junto com o desemprego e a falta de perspectiva. Em termos de honestidade, o campeão é a roleta. Já na outra ponta há muitos concorrentes...
Na roleta, a esperança de lucro da banca é de 1/36 – em média, uma a cada 36 rodadas dá zero e a casa leva tudo. Nas outras, uns ganham, outros perdem, a banca tende a ficar na mesma. Pouco gananciosa, não? Calcula quanto dinheiro passa pela mesa numa noite e divide por 36 e terás uma idéia.
Nem me fala em raspadinha, loteria, bingo etc. Mesmo se o governo for o bocão que engole a maior parte (então supostamente ganharíamos todos), não vale a pena. Há estudos que concluem que a Meca da jogatina, Las Vegas, é mais fermento do crime do que dínamo da economia. Tem shows e hotéis de luxo, mas também é isca de bandidagem.
Agora, o jogo pode ser uma mera diversão social, tanto que alguns são ditos “de salão”. Lá no escritório, escapo de entrar no bolão da mega-sena acumulada dizendo que só vou jogar quando for para ganhar. Semana após semana tenho deixado de perder uns pilas, enquanto o pessoal deixa de ganhar uma bolada.
Na semana que vem vai dar... E é aí que todo jogador é fisgado. Assim como uma inocente cervejinha pode ser o bilhete de viagem para um naufrágio etílico, parece que até mesmo a simplória roleta ou um bobo bingo tem potencial para desencaminhar um cristão (ou um budista, ateu, muçulmano... sem distinção de credo).
Mas, Fidelito, se um dia sentires a mão coçar e vier aquela sensação de sorte infalível, dependendo de quão persistente fores na perseguição do grande lance, é certo que depois de algum tempo, mesmo que demore um pouco, vais finalmente conquistar a completa e definitiva bancarrota. Por incrível que pareça, as chances de isso acontecer são de 100%. É o que os matemáticos chamam de evento certo.
É que, como a sorte é aleatória (fora sacanagem, que faço de conta que não existe), no longo prazo a tendência seria empatar – se o jogo fosse honesto. A todo momento, ganha-se ou perde-se um tanto. O que dizem os matemáticos é que, comparada ao jogador, a banca tem um caixa infinito. Dia mais, dia menos, o jogador atinge seu ponto de falência. A banca, jamais.
Aí é que vem a segunda parte da história, como sugere o título. Assim como o jogador, o violento acha que pode ganhar da banca. Uma porrada no desafeto, para fazer justiça. Daí, o desafeto usa a mesma filosofia e começa uma disputa interminável que pode respingar até em ti, meu amável grandalhão Fidel.
E o que fazer? Difícil... Essa gente não costuma aceitar conselho. Assim como a dependência química, a violência é uma doença. Quanto a mim, procuro lembrar do Millôr Fernandes a cada vez que me pisam nos calos: “o mal de discutir com um imbecil é que quem passa pode não notar a diferença”. O melhor é não ceder ao convite para ser imbecil II, porque nesse jogo a bancarrota é o pijama de madeira.

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