terça-feira, 18 de novembro de 2008

Previsões para 2003

[Publicada n'O Taquaryense em 31 de janeiro de 2004]

Caríssimo Fidel, não entendeste mal. Resolvi escrever minhas previsões para o ano passado porque não vejo grande mérito em escrever prognósticos que ninguém vai querer bater com os fatos (“ninguém” são os órgãos de imprensa que todo ano vem com a mesma lengalenga).
Pai Mário abre o cafofo e joga seus búzios (na verdade são envelopes de engov amassados, dá no mesmo). Já advirto: também não admito que me cobrem as previsões. São verossímeis demais e eu não sou besta de querer arrumar encrenca. Qualquer semelhança dos personagens das previsões com pessoas ou organizações terá sido mera coincidência.
Começo com a que me é mais cara, literalmente: no décimo-primeiro mês, na ilha capital (só no Brasil são três capitais em ilhas; essa vagueza é um dos principais charmes das previsões e também um recurso de Pai Mário para jamais errar), emergirão seres do oceano da tolice que, com criatividade, deixarão 300.000 pessoas sem luz por três dias. Serão secundados por seres homeomorfos da companhia de águas, que nunca pensaram em instalar um gerador de energia e, assim, as 300.000 pessoas ficarão também sem água.
Tem mais. Os seres fritarão a ponte (!) que liga a ilha ao continente, complicando o trânsito por semanas. Jornalistas independentes produzirão um relato competente mas não conseguirão vendê-lo a qualquer órgão de imprensa.
Prevejo que não conseguirão publicar nem como matéria paga, nem que juntem as economias dos parentes até o 48º grau. Prevejo que os responsáveis promoverão a primeira entrevista muda do rádio brasileiro – uma loucura, Fidelito! Mais ou menos um mês depois, conseguirão provocar outro incêndio no mesmo lugar, quase igual – incrível! Justiça seja feita, o “gato” que farão em alta tensão para a luz voltar será coisa de bravo.
O ano iniciará com um novo líder no comando da nação brasileira. Seus inimigos irão se acostumar, seus seguidores irão se decepcionar, e todo mundo haverá de concordar que ele pegou a coisa para lá de precária. Alguns comemorarão um tal de baita superávit primário, só que pouca gente sabe que depois de pagar o juro isso vira déficit. Considerando que há muito chegamos no último buraco da cinta e já fizemos vários outros para a calça não cair, sempre devendo mais, dá para desconfiar o rumo que tomamos? Mas não chegaremos lá em 2003, ainda tem um tempinho.
Já no crepúsculo do ano, prevejo que encontrarei 180 novos e-mails após 3 dias de viagem, isso já considerando o filtro instalado por meu competente administrador de sistemas. Só 5% me interessam, mas outros 5% pelo menos são de temas de interesse profissional. Grande parte dos 90% de lixo oferece produtos para aumentar partes da anatomia que, francamente, não carece. Mas é feio a gente se gabar, então paro por aqui.

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