sábado, 24 de janeiro de 2009

Adeus 2005, ano velho

Publicada n'O Taquaryense em 29 de janeiro de 2005.

Fidel, lembras quando eu descobri o que disse o Otto Lara Resende (que no Brasil o passado é imprevisível), só depois de te fazer previsões sobre o passado? Pois fiquei sabendo que o físico Niels Bohr há muito já falou que é difícil fazer previsões, “principalmente sobre o futuro”. Ou seja, essa conversa de previsões sobre o passado e retrospectiva do futuro não tem nada de novidade.
Já que eu comecei a retrospectiva 2005 e me perdi no terrível tema da Educação, permita-me encompridar a conversa para rever como foi 2005 em outras áreas. Xovê... Tu que não lês jornal, adivinha o que o governo fez em 2005, Fidel: cobrou imposto de quem não paga e nunca pagou, ou sangrou mais os mesmos otários de sempre?
Dou algumas dicas: (1) cobrar de quem não paga requer levantar a bunda da cadeira, mas castigar no imposto dos otários exige só uma canetada; (2) quem já paga imposto não tem dinheiro para fazer lobby no Congresso, mas quem não paga tem bufunfa para comprar muita coisa; e (3) há coincidências interessantes entre listas de grandes sonegadores e listas de contribuintes de campanha (o problema é ter a vontade política de produzir a primeira lista e a imprudência de cruzar com a segunda).
Fico me perguntando, Fidelito... Esse povo que governa é mais velho do que eu. Será que quando eles foram crianças (se foram) o Esopo não tinha nascido? Esopo, um grego, aquele das fábulas... Tinha a da galinha dos ovos de ouro, que... Ah, deixa para lá. Se eles não entenderam a moral da história quando eram crianças, não sou eu que vou explicar.
Porém, louve-se a coerência do governo em descrer das fábulas, como a de se endividar e viver deitado eternamente em berço esplêndido. Os governos prévios, fabulistas, nos endividaram até a raiz dos cabelos. Este aí resolveu parar e pagar as contas. Foi meio complicado, em 2005, pagar tanta conta sem dinheiro para comer, morar, vestir e estudar. Mas tudo bem, uma coisa de cada vez.
O importante é que a parte mais carente do país não foi mais castigada do que já é. Sim, Fidelito, eu me refiro aos bancos. Em 2005, o governo poupou essas instituições beneméritas e necessitadas. Nada de pagar imposto para os fundos setoriais, por exemplo.
Aliás, falando em bancos, em 2005 eles continuaram tentando criar à força a certificação digital. Eu digo à força porque eles querem que o governo aprove da mesma forma que se fez no caso da urna eletrônica: brutal, ignorando olimpicamente o conselho dos peritos, esses chatos. Afinal, ninguém seria maldoso a ponto de fraudar a urna eletrônica ou burlar a certificação digital, né? Só a dona Regina, culpada de violar o painel eletrônico do Senado em 2001. Arrudão e ACM já estão de volta.
Só que os bancos têm uma motivação extra, que justifica tudo: se existir a certificação digital, eles deixam de ser responsáveis por eventuais fraudes e violações – a senha é só tua, nega; se saiu dinheiro da conta, azar o teu, o banco não tem nada com isso. Pensa na miséria em que vivem os bancos, Fidelito, comparada com o luxo em que vivem os cidadãos brasileiros, é verás que já era hora de pensar nisso. Afinal, já estamos quase em 2006.

Nenhum comentário: