quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Fim dos presságios para 2004

Publicada n'O Taquaryense em 8 de janeiro de 2005.

Fidel, mizifio. Pai Mário tem mais algumas previsões do ano passado para suncê. Me alcança o charuto e a cachaça que as primeiras previsões são sobre sumiços: Bin Laden continuará amigo oculto do Jorge Bucha, que só assim vai finalmente ganhar uma eleição. Não será encontrada, ainda, aquela renda de um jogo do Vasco que o deputado Eurico Miranda levou para casa e teve o azar de ser assaltado. E os desaparecidos da ditadura vão continuar desaparecidos, pois parece que nem 30 anos depois dá para falar do assunto.
Aliás, mesmo considerando que os familiares têm o direito de saber dos seus mortos, desconfio que, afinal, não será interessante para ninguém saber o que houve. Qual foi ou é o papel de muitas figuras conhecidas, quem animadamente promoveu barbaridades com financiamento público... Pode ser melhor não saber. Mas queimar documentos daquela época aberta e impunemente será mais uma façanha de quem sabe que está num país do penúltimo mundo.
Abu Ghraib, Beslan, Cornelius Horan... Não, não é boa idéia fazer um prognóstico de 2004 em forma de ABC. No A tem tortura, no B, o mal em si, no C, um bufão fundamentalista. O bufão promoverá uma injustiça e, ao mesmo tempo, a glória do Vanderlei Cordeiro de Lima, nosso maratonista que ficará mais famoso que o ganhador da medalha de ouro. É, fiquemos no C, que é mais suportável do que o A e o B.
Nas previsões domésticas, um marco: passará para o andar de cima um engenheiro e político hábil e influente. Levará um prestígio minguante e a pinta de folclórico, anacrônico e populista, mas honrado. Se for culpado de algo, será do fio de esperança criado ao desmantelar a fraude eleitoral, o atentado à democracia perpetrado em 1982 pela Proconsult e alguns senhores que até 2004 não terão arrancado os próprios olhos (moral e politicamente falando), como faria um homem honrado.
Na área da Educação, algumas universidades implantarão uma política de cotas raciais, econômicas ou sei lá. As gentes de opinião vão escolher entre ser a favor das cotas, coisa esdrúxula como nunca, ou ser contra e continuar não fazendo nada, como sempre, para mudar o quadro de privilégio de poucos e exclusão de muitos. Pai Mário não garante que alguém vá sair com idéia que preste.
É garantido, Fidel: não será em 2004 que o Brasil inicia a revolução que nos dará um sistema educacional ruim em algumas décadas (o atual mata 100% das inteligências, segundo um estudo empírico do físico e prêmio Nobel Richard Feynman). É o que se concluirá a partir da pérola enunciada por um alto funcionário do Ministério da Educação (candidato ao prêmio Ig-Nobel?): “educar é transferir conhecimento”. A revista de maior circulação no país publicará isso entre aspas (eles não inventariam citação literal, inventariam?).
Perto do fim do ano, Pai Mário ouvirá no rádio um anúncio de colégio particular no qual “não será cobrado taxas” de quem se matricular cedo. Pai Mário profetiza que no colégio “não será feito concordâncias”. Nem verbal, nem nominal. Quanto à ortografia e à regência, Pai Mário não se arrisca a pressagiar. Vai ouvir o próximo anúncio para ver se o santo baixa e libera mais essa profecia.

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