sábado, 24 de janeiro de 2009

Retrospectiva 2005

Publicada n'O Taquaryense em 22 de janeiro de 2005.

É, Fidel, eu acho que três semanas já é tempo suficiente para fazer uma avaliação do que foi este ano de 2005, tu não achas? Para que esperar dezembro, ou mesmo fevereiro? No fim do ano, todo mundo vai fazer retrospectiva. Não tem a menor graça e eu acho, mesmo, que já deu para sacar o "ano novo".
O Brasil continuou, em 2005, com muito sucesso na execução de tudo o que é meticulosamente planejado. O futebol demonstrou ser o melhor do mundo, a Educação continuou sendo uma das grandes tragédias da história da humanidade, as contas foram pagas, mas a miséria e a violência seguiram galopando.
Apesar de algumas ações para acabar com o futebol brasileiro – favorecimentos, viradas de mesa etc. – nunca mexeram no fundamental: ganha quem bota mais bola para dentro durante os 90 minutos, onze contra onze. Desse jeito, sem que uma comissão de notáveis escolha o vencedor, não vamos conseguir equiparar o futebol a outras áreas da vida nacional.
Na Educação, aí sim conseguimos manter o nível, pois tratamos do fundamental: o sistema é infalível, aniquila 100% das inteligências. Googleia aí, Fidel, pois está na web: “O Americano, Outra Vez”, do físico e prêmio Nobel (1965) Richard Feynman, que viveu no Brasil e fala algumas maravilhas, mas não deixa pedra sobre pedra quando o assunto é Educação. É uma boa leitura para um serão literário.
O professor Feynman descobriu, com grande espanto, que os alunos decoravam definições complicadas e passavam nas provas sem ter a mínima idéia do que realmente se tratava. Pensou que tinha 2 alunos sobreviventes do sistema brasileiro, mas antes de voltar aos Estados Unidos descobriu que um estudara na Alemanha e o outro, sozinho, no tempo da guerra, portanto não se podia dizer que era produto do nosso sistema educacional 100%.
Então reza comigo, Fidelito, até decorar: “Se a maior parte de uma turma é reprovada, o problema é o professor”. “Não existe uma resposta errada, cada resposta tem o seu sentido para quem responde”. E outras baboseiras que tu, como todo mundo, já ouviste.
E nunca, jamais colabora para implantar um sistema que meça sistematicamente o desempenho cognitivo dos alunos. Afinal, das várias dimensões da Educação, o desenvolvimento cognitivo é uma das poucas fáceis de medir. Há quem pense que é caro medir desse jeito (nosso atual governo, por exemplo) – talvez achem barata a nossa cavalgante ignorância.
Portanto, foi com grande alívio, regozijo eu diria até, que acompanhamos o investimento na Educação em 2005. Mais especificamente, o investimento na criação de factóides sobre cotas raciais, reforma da universidade e outras futricas. É uma revolução, “uma volta de 360 graus” (casualmente, essa também é a definição que a Física dá para “revolução”).
Pegar o problema da Educação pelos chifres é muito perigoso ou muito tedioso. Façamos, então, o fundamental: garantir que a escola continue punindo quem pensa e mantendo o mais absoluto sigilo sobre quem sabe e quem não sabe, quem aprende e quem não aprende. O ano de 2005 foi tão profícuo na área da Educação, Fidelito, que vou ter que deixar outros temas para depois. Vai fazer o tema de casa, guri!

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