terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Como escolher o vereador

Publicada n'O Taquaryense em 18 de setembro de 2004.

Caro Fidel, não falo sobre o processo eleitoral taquariense porque vivo em plagas distantes, mas aqui na minha cidade ocorrem fenômenos que eu acho que são universais. Para ajudar os candidatos a vereador, vou contar meus critérios para escolher o candidato nesse xópim center bizarro que é o Horário Eleitoral.
Falando em xópim, aliás, hoje em dia se “vende” um candidato que nem se vende margarina ou cerveja. Só que com muito mais competência, pois te pergunto, Fidelito, se já viste algum saco de bolacha que não diz o peso, ou que nem diz se é bolacha. Pois é assim que se vendem os candidatos: cara, número e musiquinha. Não precisa mais nada – êta marquetingue!
Lembra da propaganda “gratuita” dos tempos da ditadura? (Claro que não; só quem é velho que nem eu). "Fulano de Tal. Advogado (ou engraxate, médico, funcionário público...). Líder estudantil. Foi preso..." (para quem era Oposição, era uma honra ter sido preso - mas nem sempre se esclarecia o motivo e muito matuto concluía que era crime comum e não desobediência aos nossos redentores militares).
Se é letrado ou analfa, se já trabalhou na vida e em quê, quantos metros tem sua ficha corrida (é, isso mesmo: na polícia!), por onde andou... nada disso interessa. Então, sem mais delongas, explico como eu escolho.
Primeira coisa: "Sou seu amigo"; "Amigo a gente não esquece". Beleza, quero me arrumar! Raciocina comigo, Fidelito: se na minha cidade há, digamos, dez mil eleitores e o ganhador teve cinco mil votos, eu quero estar entre os que vão ganhar boquinhas e caminhões de aterro. Deixa os outros cinco mil chupando dedo!
Outra coisa decisiva: "Sou daqui; nasci e cresci nesta terra". Porque, se há coisa nojenta neste mundo, são esses estrangeiros que vêm para cá pagar impostos e vencer com sua competência, em vez de fazer como nossos antepassados, que chegaram matando índios e, por isso, são os únicos que têm o direito de existir em nossa abençoada cidade.
"Vou acabar com esses pardais e caetanos" é certeza de voto. Eu ali, calmamente furando um sinal ou voando baixo e vem um aparelhinho besta guardar a prova do feito, como se eu fosse marginal... Basta de abuso! Eu não sou um qualquer. Conheço o deputado João Boquinha e ele sempre conseguiu “tirar” minhas multas.
"Sou do partido do presidente (ou do governador, ou do ministro, ou do deputado João Boquinha) e por isso sou o único que vai conseguir trazer as verbas necessárias para ...” (pensa na vergonha municipal não resolvida por falta de verba ou “vontade política”). Tens o meu voto. Quero ser amigo de gente importante amiga de gente importante.
Por fim, a musiquinha. Não é detalhe menor. Tem que ter musiquinha parodiando algum sucesso da Ivete Sangalo. Mas, atenção: não faz a besteira de pôr uma mensagem esclarecendo que os direitos autorais foram pagos. Assim o efeito positivo vira negativo. Não vivem dizendo que "político é tudo ladrão" e que depois de eleitos eles só se preocupam em encher os bolsos? Só que tem uns que decepcionam e vão ser honestos. Não se pode confiar nesses políticos! Por isso é que eu voto em quem tem musiquinha da Ivete Sangalo. Se não for ladrão, pirata eu já sei que é.

Nenhum comentário: