terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Vitória de um teleoprimido

Publicada n'O Taquaryense em 30 de outubro de 2004.

Há duas formas (que eu saiba) de telemarketing, Fidel. No tipo pedinte, que comentei na última carta, eles te ligam porque querem teu dinheiro. Mas também há o tele-atendimento, quando a gente tenta ser ouvido por uma grande empresa em um desses telefones 800 (que a malandragem deles, maior do que a nossa, vai trocando para 300, para a gente pagar). São duas coisas bem diferentes.
Nos países onde há liberdade econômica mas também se respeita o cidadão, o telemarketing pode existir, porém há limitantes e socorros à mão. Nada que chegue a sessões públicas de tortura dos mentores desse tipo de pouca-vergonha (a única vingança realmente satisfatória), mas pelo menos não se deixa um cristão totalmente à mercê desses ladinos.
Nos Esteites existe a Lei de Proteção ao Consumidor contra a Fraude Telefônica. Cada violação dá multa de 10 mil dólares. Há também uma Convenção Européia para a Proteção dos Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais que diz que toda pessoa tem direito a respeito por sua vida privada.
Para nós uma lei dessas seria um exagero, um luxo. Seja como for, isso tem muito mais a ver com o telemarketing pedinte. Não sei se contra o tele-atendimento há salvação, mesmo na Europa. Enfim, a diferença seria como cação e tubarão: cação é quando vem em filé ou postas, tubarão é quando nós é que somos a janta. Só que nem o tele-atendimento nem o pedinte lembram filé de cação. Não sei o que é pior.
O segredo da abordagem bem-sucedida ao tele-atendimento é a paz e o amor, que nem no caso do telemarketing pedinte. Só o amor constrói, nada de esquentar a cabeça. Vamos partir do princípio de que as pessoas são honestas e bem-intencionadas. Isso. Pensamento positivo.
"No momento, todos nossos atendentes estão ocupados", "não foi possível atender sua ligação". Bom, continua tentando e um dia tu vais ouvir o “tuuuu” que significa que conseguiste linha. Daí começa a ladainha: “pressione 1, 2 ou 3 para selecionar uma das opções que não interessam”, “usando o teclado alfanumérico, digite o nome de solteira da sua professora da primeira série” e por aí vai.
Se conseguires passar pela maratona, daí “você será atendido em breves instantes por um de nossos operadores” e uma musiquinha, interrompida a cada minuto e meio por mensagens que reafirmam como és importante para eles (só o amor constrói, não esquece). A orelha dói.
Daí tu perguntas, Fidelito: sim, e por que se submeter a essa porcaria? Bom, há pelo menos um caso que eu considero inevitável. Se viajas ao exterior, é impraticável ir sem um cartão de crédito. Pronto, arrumaste encrenca. Se quiseres cancelar o cartão, eles é que decidem se tu tens o direito de declinar do privilégio.
Sei de um cidadão que, após 6 meses de tentativas inúteis, conseguiu ser atendido pelo Elvis. Com a maior paz e amor, falou que queria cancelar o cartão o mais rápido possível. Elvis perguntou por quê. "Elvis, deves ser uma boa pessoa e não mereces o que me passa pela cabeça, mas eu gostaria mesmo é de pegar teu chefe e extrair as amídalas pelas entranhas" (detalhes técnicos impublicáveis). O cartão foi cancelado em menos de 5 minutos. Valeu, Elvis! Obrigado!

Nenhum comentário: