sábado, 13 de dezembro de 2008

De novo o vereador

Publicada n'O Taquaryense em 25 de setembro de 2004.

Fidel, quando te falei sobre meus critérios para escolher o candidato a vereador, esqueci uma coisa importantíssima! Para escolher o candidato, tem que analisar as carreatas que ele e seus correligionários promovem. É lógico.
Porque, pelo que ouvi falar, as atribuições de um vereador são propor e votar leis e outras iniciativas municipais, fiscalizar a prefeitura, conceder audiências públicas e também, claro, comparecer religiosamente a todas as sessões da câmara. Logo (acompanha meu raciocínio), quem não faz belas carreatas não tem competência para ser vereador.
Puxa a calculadora aí, Fidelito. São 5.562 municípios no Brasil. O número de vereadores varia conforme a população do município. Nove nos menorzinhos, um pouco mais nos maiores, até 55, que é o tamanho da câmara de São Paulo, a maior do país. Para não encompridar a história, são 51.818 vagas de vereador, o que dá uma média de 9,3 vereadores por cidade.
Aaaaaaah! Agora entendi aquele bochincho todo no Congresso Nacional por causa do número de vereadores. Era para ser no mínimo 7, daí 9, 11 (número ímpar para não dar empate nas votações) e assim por diante. Brigaram muito e conseguiram que ficasse pelo menos 9, depois 10, 11, 12 e lá vai bola. Uia! O número mínimo é 9 e a média deu só um pouco mais que 9. Se fosse 7, então, a média daria 7 e pouco.
Mas claro! Nossos inteligentes e patrióticos deputados e senadores querem ajudar o presidente Lula a criar os 10 milhões de empregos que prometeu. Aumentar o mínimo para 9 criou uns 10 ou 11 mil empregos de vereador, pelas minhas contas, mais esposas, filhos, sobrinhos, pais, cunhados e amigos que alguns costumam chamar para uma boquinha no serviço público. Se todo vereador empregar duzentos, acaba o desemprego!
Mas não te desconcentra das contas, Fidel. São 346.680 candidatos, só contando aqueles que têm a candidatura deferida ou sub judice (ou seja, fora os que, após um longo processo, acabaram condenados por crime em última instância, sem jeito de se safar). Isso dá uma média nacional de 6,7 candidatos por vaga.
Não guarda a calculadora. Vamos chutar que, em média, cada candidato faz só umas 10 carreatas, cada uma com uns 10 carros. Digamos que se anda 10 quilômetros em cada uma e digamos que isso dá em média um litro de gasolina. Deixa eu ver... escorrega um zero...
Quase 35 milhões de litros de gasolina! Mais a papelada que vai entupir os bueiros, latinhas de cerveja pelo chão, muitos casos de pugilato com escoriações e oito tumultos causados por exibição de partes íntimas (houve muitos mais, que não causaram tumulto, só diversão para a platéia). Tudo sob uma cativante e estridente musiquinha tocada pelo carro de som (de preferência, paródia de axé da Ivete Sangalo enaltecendo as qualidades do candidato).
Fazer carreata é um exercício fundamental para nossos futuros nobres edis. É ali que eles mostram como respeitam nossa inteligência e compreendem o delicado equilíbrio ecológico do planeta, bem como o que é ser vereador. Então, querido candidato, não esquece: quando passar na frente da minha casa, buzina que eu abano.

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