segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Nem pública nem gratuita

Publicada n'O Taquaryense em 24 de julho de 2004.

Fidel, dizem que os mais velhos são sábios e não cometem os erros que os jovens cometem. Eu não sei, não. Ou sou tolo demais, ou velho de menos, mas encaneço e alopeço sem refutar a teoria construída nos meus anos de faculdade: os velhos ficam de bico calado, não contam as besteiras que fazem. É só isso.
Com o perdão da palavra, que é a correta, quem faz faz m. Se os velhos têm algo a mais é a malandragem, a noção de que em boca fechada não entra mosca. Porque fazer é errar. Sábia gente, essa que nunca faz. Não têm a consciência pesada. Não têm que fechar as contas, aliás... não têm compromisso nem com a aritmética.
Torcem e retorcem conceitos, gigoleiam filósofos e argumentam mordazmente sem risco de levar um gol no contrapé, pois têm a ficha limpa, conduta ilibada, memória impoluta de quem sempre está com a razão. Eu, se fosse a Razão, dizia que ia fazer xixi, levantava e nunca mais voltava à mesa desses baldios.
Mas comecei o papo pelos anos universitários, que foram ricos e cujas lembranças vão das fragrâncias mais finas ao fedor da supracitada. Estudar, estudar, festar, enfrentar finalmente um desafio intelectual após uma década no moedor de inteligências fundamentais e médias do Brasil, encontrar ruínas no lugar daquilo que contavam pais e tios, ser trainee, foca, estagiário, deixar o cabelo crescer (enquanto tinha), chacoalhar nos ônibus entre os 4 campi da UFRGS, invadir o gabinete do reitor, enfim... todos esses eventos fundamentais para se forjar o caráter de um jovem universitário.
Eu fiz (inclusive m...). Lutei por coisas que já não acho sensatas, como a tal “paridade” de 1/3 de professores, estudantes e funcionários nos colégios eleitorais (hoje estou seguro de que os alunos, sozinhos, escolheriam melhor). Agora, de todas as lorotas, a maior é aquela da universidade pública e “gratuita”. Gratuita para quem, cara-pálida? Alguém paga!
Podemos discutir de onde e como tirar o pila, mas sem essa de gratuita. E tem gente velha que acredita nesta arenga. Acorda, ô! Que eu saiba, Papai Noel já está atolado em dívidas dando presente um dia por ano, imagina todo um ano letivo!
É preocupante que gente importante da academia tenha essa visão mágica, de que existe educação “grátis”. Se bem que há décadas o governo tenta, basta ver o salário dos professores. E pública... tenta retirar um livro na biblioteca. Só se és aluno, professor ou funcionário. Se és o patrocinador, a universidade “pública” não te inclui.
Fidelito, trata de continuar simpático e adorável como és, que vais continuar um vencedor. Não sonha com a universidade, que é a instituição mais conservadora e retrógrada que há – não só no Brasil. Sabe mula, quando empaca? Não, mula não empaca por 500 anos.
O problema é que tem gente lá que estudou, estudou, é tido como sabichão, bidu, mas está esperando o curupira resolver o problema da nossa deseducação. Como dizia meu avô, diploma nunca encurtou a orelha de ninguém. Não bastava um primário bem feito? Que falta faz um primário bem feito!

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