domingo, 14 de dezembro de 2008

Já ganhou

Publicada n'O Taquaryense em 2 de outubro de 2004.

Caro Fidel, tem sido interessante este ano de 2004 cheio de competições. As que acompanhei melhor foram a Olimpíada e a eleição municipal. Digo interessante porque a gente observa, aprende e se diverte com as estratégias dos jogadores. Tem de tudo – as sensatas, as curiosas, o tiro no pé, o golpe de mestre.
Eu me interesso mais pelo jeito de cada um jogar do que pelo resultado. Acompanho com fascínio a concorrência que os candidatos vêm fazendo aos cachorros: é só o totó regar o poste para marcar seu território, vem um candidato e pendura uma placa. Totó faz mais um xixi, candidato bota mais uma placa. Haja urina! Haja tinta!
Tenho visto candidatos dirigirem-se ao eleitor como a um matuto na saída da estação rodoviária. Será que tanta gente ainda compra bilhete premiado, Fidel? Há os moderados, mas os que me divertem têm jeito de ator de novela mexicana, exageram no dramalhão, acreditam que convencem... Deve ser difícil ser ator de verdade com tanta concorrência. Aliás, cachorros e atores estão passando por uma fase terrível.
Há os bons de voto e os ruins de voto. Não me pergunta como isso funciona porque eu não entendo. Numa famosa eleição presidencial ganha pelo Dick Vigarista (para quem lembra da Corrida Maluca), eu duvidei quando todo mundo dizia que o resultado seria aquele. Para mim, fazer todas as trapaças que ele fez e ser descoberto ainda antes da eleição, como ele foi, era garantia de óbito político. Não foi.
Na política, no esporte e em outras coisas é muito importante ganhar. Mas eu entenderia melhor a afoiteza de tentar ganhar na marra se viesse de garotos inexperientes. Às vezes não tem jeito, Fidelito. Tem que reconhecer, enrolar a bandeira e tentar outra vez. Daí na próxima, quem sabe, a sorte sorri.
Preferências políticas à parte, que cada um tem a sua, olha o nosso presidente: perseverou e ganhou depois de perder por três vezes. E olha que ele perdeu até para o... Peraí, vou mudar de assunto, esse é muito triste.
Quanto aos atletas, acho inspirador assistir à Paraolimpíada. É bom ver gente com limitação física que não se resigna, continua vivendo e ralando. Também inspirador foi ver a Daiane lidar com a derrota. Deu para sentir que a guria tem virtudes muito maiores do que ser campeã do mundo e saber voar.
Uma vez falei aqui dos garotos de salto alto, os do futebol, cuja estratégia foi não ir a Atenas. Tática meio estapafúrdia, né Fidel? Mas o caso das garotas do futebol, esse sim dá gosto! Já se sabia que eram boas de bola e que não há apoio para o futebol feminino no Brasil, por incrível que pareça. Quer dizer, mais ou menos, porque contrataram como técnico o René Simões, aquele mesmo iluminado que levou a Jamaica à Copa do Mundo.
E não é só isso. Disse uma delas: "Temos tudo o que não tivemos em outras épocas: de psicóloga a podólogo, carinho, respeito e profissionalismo". Quem faz tudo bem feito já ganhou. Primeiro lugar, daí, é só uma questão de concentração, competência e sorte. E se não deu dessa vez, numa próxima vai dar.

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