domingo, 14 de dezembro de 2008

Nossa chance é agora

Publicada n'O Taquaryense em 16 de outubro de 2004.

Fidel, tu sabias desta declaração? “Nossos inimigos são inovadores e cheios de recursos e nós também. Eles nunca param de pensar em novas maneiras de prejudicar nosso país e nosso povo, e nós também não”. Foi ele, George Walker Bush, presidente dos EUA e candidato à reeleição, falando diante de autoridades do Pentágono.
Por que é que o presidente norte-americano resolveu dedicar-se a prejudicar o próprio país eu não sei, mas vamos reconhecer: eis a grande oportunidade para o Brasil e outras nações pobres melhorarem de vida. Não que nós tenhamos evoluído muito em mentalidade e valores, os norte-americanos é que cansaram de progredir e resolveram descer a ladeira.
Sabe aquela crença popular de que vida de rico é um saco e que pobre é que se diverte? Parece que os gringos se convenceram disso. A gente não tem que entender. Se eles querem fazer dívidas e inimigos, é problema deles.
O fundamentalismo, gasolina do terrorismo, tem funcionado na terra do tio Sam. No caso, é fundamentalismo protestante, mas não faz muita diferença. Quem tem vocação consegue até ser moderado radical, fanático do meio-termo.
Nós aqui conhecemos o estilo. Lembra da Beija-Flor, Fidel? Houve um carnaval em que teve que cobrir seu carro alegórico porque era uma imagem do Cristo Redentor e alguém já tinha registrado a marca no INPI. Business is business. Os direitos comerciais dos donos do crucifixo têm de ser respeitados.
Ainda bem que o castigo não é mais virar churrasco, como em séculos passados. Que bom para o Joãozinho Trinta viver num país com liberdade religiosa e de expressão, né? Eu mesmo, com esta singela carta não-psicografada nem ditada por divindade, em outras épocas correria o risco de virar torresmo. Logo eu? No máximo daria um torresmo light.
O segredo de marketing dos fundamentalistas é insuperável: requisitar intimidade com o Onipotente. É dizer que quem está falando é o Ser supremo, não o mané que conta a lorota. Daí ninguém pode chamar de lorota, pois foi Ele que falou e quem está contra merece aumentar a renda per capita pela parte do denominador (uma capita a menos).
Voltando aos talibãs ianques, o mulá-presidente não vai permitir a clonagem de células-tronco, que tanto promete para o avanço da medicina. É a chance dos países pobres mas bons de pesquisa como o nosso diminuírem o atraso.
Os britânicos já aprovaram os estudos (mas acho que não servem como exemplo de país atrasado). Por aqui, a Dra. Mayana Zatz, que coordena o Centro de Estudos do Genoma Humano, já se esfalfou explicando aos nossos nobres representantes por que devemos pesquisar. Mas falou sem mandato divino.
Então, Fidelito, em vez de dizer que o presidente-caubói é um Ronald Golias do mal, aprecia o raro momento em que a grande potência do planeta nos dá essa oportunidade. Daqui a pouco vai disputar outra eleição e dessa vez tem chance até de ganhar. Quem sabe ele inventa outros motivos para engatar uma marcha-a-ré acelerada? E se, em cima disso, ainda resolvermos avançar por conta própria, hem? Ninguém segura esse Brasil.

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